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Educação e boa gestão de talentos devem estar no centro da estratégia

18 de Maio de 2016

Por: Vivian Soares

O índice de inovação de um país está diretamente relacionado à qualidade de suas universidades, da sua pesquisa e da gestão de seu capital humano, aponta o Global Innovation Index (GII). De acordo com os responsáveis pela elaboração do ranking, a educação em todos os níveis é um ponto crucial para a competitividade de um país.

"Se eu tivesse que escolher o item mais importante do ranking, seria capital humano", afirma o reitor Soumitra Dutta, da Cornell University, uma das organizadoras do GII. Dentro desse item, chamado de capital humano e pesquisa, o ranking avalia três aspectos: educação, com dados como investimento do PIB, notas do Pisa e número de anos que os alunos passam na escola; educação superior, com informações sobre universidades; e pesquisa e desenvolvimento, que aborda temas como a qualidade de publicações e investigações.

Nesses quesitos, os pontos fortes do Brasil estão relacionados a P&D: o país é o 33º do mundo nesse quesito, e ocupa a 23ª posição em qualidade da produção de suas universidades. "Existe um potencial enorme a ser explorado ali. Por um lado, há centros de excelência como a Fundação Getúlio Vargas, que é um exemplo especial porque atua em nichos. Mas também há campi enormes. Eu diria que é necessário juntar as duas coisas: a qualidade de FGVs em campi maiores", diz Bruno Lanvin, diretor executivo de índices globais do Insead.

É exatamente no item educação superior que o Brasil tem baixo desempenho ­ o país é o 111º na lista de 141 participantes. Um dos motivos é o número de graduados em ciências e engenharia, que coloca o país no 94º lugar no GII. O reitor Dutta aponta alguns programas que buscaram melhorar esse indicador, como o Ciência sem Fronteiras, mas afirma que o Brasil precisa de políticas estáveis e bons exemplos de investimentos em mobilidade e desenvolvimento de tecnologias. "Existem iniciativas como a da Embraer, que tem uma escola de tecnologia aeronáutica e produz conhecimento de qualidade. Mas são histórias pontuais. É preciso mais modelos de sucesso que inspirem as novas gerações."

Outro item que prejudica a colocação no ranking de educação superior é o de mobilidade, em que o Brasil ocupa o 104º lugar. Esse ponto avalia a capacidade do país em atrair estudantes e professores de fora e, ao mesmo tempo, a internacionalização dos brasileiros. "Vemos bons exemplos na China e na Índia, que são países de onde muitos alunos saem para estudar mas retornam trazendo novas ideias. É um fluxo de cérebros que o Brasil precisa criar", afirma Dutta.

O atual cenário político, na opinião dos especialistas, é um dos pontos preocupantes para a evolução desse fluxo. "Ter um talento vivendo fora do país por um ou dois anos é positivo, mas depois de cinco anos as chances de retorno diminuem", explica Lanvin.

O diretor executivo do Insead que também é responsável pela realização de um ranking global de talentos na escola de negócios, explica que a performance do Brasil em gestão de capital humano é melhor do que a do GII, mas fica aquém de seu potencial. "Há muitos desafios em termos de ambiente de negócios e também nas dificuldades para profissionais com perfil empreendedor. É preciso que empresas e talentos tenham incentivos e abertura para falhar", afirma. A percepção de corrupção, segundo ele, é outro fator desafiador para a competitividade do Brasil. "Não é diretamente relacionada à inovação ou ao talento, mas afeta intensamente esses dois aspectos", diz. Por outro lado, o país tem um bom posicionamento no ranking em termos de remuneração, o que atrai talentos, e em oportunidades de treinamento.

Apesar de essenciais para a melhora do índice de inovação do país, a educação e a gestão de talentos só podem evoluir caso outros itens do ranking, como infraestrutura, instituições estáveis e um bom ambiente de negócios, lhes dê suporte. "O talento humano existe, mas é preciso dar as condições para que ele possa florescer", diz Dutta.

 

Fonte: Valor Econômico


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