Parceria Transatlântica representa oportunidade para país, indica FGV
10 de Maio de 2016
Por: Marta Watanabe
Se o mega-acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia a chamada Parceria Transatlântica (TTIP, na sigla em inglês) acontecer e o Brasil não participar do tratado, haverá impacto negativo no comércio exterior e no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiros. Mas um estudo conjunto da Câmara Americana de Comércio e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a grande perda mesmo será a de oportunidade.
A pesquisa traz simulações apontando que a participação do Brasil no TTIP, ou mesmo a assinatura de acordos com os europeus ou americanos, tem potencial de trazer ganhos não só ao fluxo de comércio do país como também para a economia.
O estudo simulou os impactos nas exportações e nas importações de diversos acordos, assim como ganhos e perdas para o PIB, usando dados projetados para o ano de 2030. A assinatura do TTIP, por exemplo, sem a participação do Brasil e que contemple redução de tarifas e de barreiras não tarifárias, resultaria, segundo o estudo, em recuo de 0,57% nas exportações brasileiras e de 1,46% nas importações do país. O impacto no PIB real seria de redução de 0,34%.
Se o Brasil participar do acordo, os resultados mudam de sinal. Nas mesmas condições, haveria elevação de 19,62% das exportações e as importações cresceriam 25,48%. O PIB real aumentaria em 4,26%. Foram consideradas eliminação de tarifas e 50% de redução das barreiras não tarifárias.
Um acordo entre Brasil e União Europeia que inclua redução de tarifas e de barreiras não tarifárias também teria efeitos positivos para o Brasil, segundo o estudo. As exportações subiriam 12,33% e as importações, 16,93%. O PIB teria expansão de 2,8%.
O comércio entre o país e o bloco europeu tem parte importante das exportações brasileiras em mercadorias agrícolas, mas também em produtos industriais. Segundo o estudo da Amcham/FGV, 28% do que o Brasil exporta para o bloco europeu são produtos agrícolas e 38% são industrializados.
Um acordo com os americanos também teria impacto favorável ao Brasil. Com um tratado Brasil-EUA que contemple zeragem de tarifas e redução de 40% das barreiras não tarifárias, as exportações cresceriam 6,94% e as importações, 7,46%. O PIB real teria alta de 1,29%. Os industrializados representam 70% dos embarques brasileiros aos americanos, seguidos de 13% em serviços.
Lucas Ferraz, coordenador do núcleo de modelagem do centro do comércio global da FGV, diz que os números levantados refletem o alcance dos acordos. "São números otimistas, mas é a melhor maneira que temos para iniciar o debate, mostrando o potencial e a sensibilidade dos acordos."
O estudo destaca que os impactos sobre o PIB e sobre o total dos fluxos de comércio de um acordo de comércio preferencial com a União Europeia sugerem resultado positivo maior na comparação com um acordo com os americanos. Os impactos sobre as trocas comerciais com os Estados Unidos, porém, são mais equilibrados para os setores industriais brasileiros.
Um acordo entre o Brasil e os americanos, diz o estudo, possibilitaria crescimento de 15% na exportação de manufaturas enquanto as importações subiriam 8,6%. O tratado entre Brasil e o bloco europeu, porém, possibilitaria alta de 2,1% na exportação de manufaturados brasileiros enquanto as importações subiriam 17,5%.
Vera Thorstensen, professora e coordenadora do centro do comércio global e de investimentos da FGV, diz que abrir o Brasil e baixar as tarifas para participação dos grandes acordos comerciais não é uma tarefa fácil, mas é preciso ter os números, verificar os setores que vão ganhar e os que vão sofrer.
"Isso é importante para que sejam negociadas as flexibilidades. Os anexos do TTP [Parceria Transpacífico, que reúne EUA, Japão e outros dez países] estão cheios de cheios de flexibilidades. Não há o que temer", diz a professora. "O Brasil tem que sair da casca e enfrentar o mundo."
Fonte: Valor Econômico