Poder de polĂcia para os veterinários
07 de Janeiro de 2016
Por: Alan Bjerga
* Este texto é uma tradução livre realizada pela equipe da ALANAC. A notícia original foi publicada em inglês pela Bloomberg.
O banimento do uso indiscriminado de antibióticos na pecuária está programado para entrar em vigor no final de 2016. Para os defensores da saúde pública, a proibição é potencialmente uma enorme vitória na batalha contra a disseminação da resistência aos antibióticos em humanos. Porém, para a proibição funcionar, os veterinários do país terão que policiar a linha de frente de uma indústria pecuária norte-americana de US$ 187 bilhões.
Dr. Carie Telgen, veterinária de grandes animais que cuida de vacas leiteiras no norte do Estado de Nova Iorque, acredita que a legislação já está muito atrasada. “Consumidores perderam a confiança nos alimentos que comem”, diz Telgen, que trabalha próximo a Greenwich, 290 quilômetros ao norte da cidade de Nova Iorque. “É bom para nós dar um passo à frente e mostrar que estamos fazendo a coisa certa”.
As diretivas da FDA (Food and Drug Administration) transformará os veterinários nos cães de guarda contra o uso rotineiro de drogas antibacterianas, que muitos fazendeiros adicionam ao alimento e à água para promover o crescimento e prevenir doenças nos animais. Veterinários terão que prescrever medicamentos que até então eram de livre venda; as normas também farão que os operadores de lojas de alimentação animal ajam menos como vendedores que empurram os produtos, e mais como farmacêuticos dispensando uma medicação controlada.

A pressão sobre os fazendeiros para eliminar o uso destas drogas tem crescido há décadas, com cientistas apresentando a ligação entre o aumento do uso de antibióticos em animais e o surgimento de infecções resistentes a antibióticos em humanos. O CDC (Center for Disease Control and Prevention) estima que as chamadas “superbactérias” atacam mais de 2 milhões de pessoas nos Estados Unidos todo ano, com cerca de 23.000 mortes.
Por anos, grupos ligados à pecuária têm complicado os esforços da FDA para colocar o banimento em vigor, apontando falhas nos estudos. Esta posição tem se suavizado, diz o Dr. William Flynn, vice-diretor de políticas científicas no Centro de Medicamentos Veterinários da FDA, pois a ciência evoluiu. O debate sobre quem ou o que deve ser culpado foi substituído por um entendimento compartilhado de que qualquer uso desnecessário de antibióticos, em humanos ou animais, fortalece a resistência a antibióticos. “Nós sabemos bastante. Precisamos reconhecer que estamos todos contribuindo”, diz o Dr. Flynn.
O aumento da preocupação das pessoas sobre o assunto, refletida em decisões no ano passado da Panera Bread e do McDonald’s de reduzir as carnes de gados tratados com antibióticos em seus cardápios, ajudou a levar a indústria de alimentos para o mesmo caminho. Em novembro, várias companhias, incluindo Tyson Foods e Walmart, pediram ao Congresso para aumentar a verba de programas de combate à resistência a antibióticos através do monitoramento do seu uso em fazendas. Os congressistas fizeram isso na norma aprovada em dezembro.
A FDA estima que os custos imediatos de adaptação à norma serão de US$ 1,4 milhão. As 26 companhias que fabricam os antibióticos não sofrerão um impacto muito grande. Elanco, a divisão veterinária da Eli Lilly, diz que compensará a perda vendendo produtos alternativos.
Apesar disso, transformar as novas normas da FDA em realidade fará com que o ano seja desafiador. “O rumo não será alterado da noite para o dia”, diz Will Hueston, um professor de Medicina Veterinária na Universidade de Minnesota. “Teremos que resolver várias questões ao longo da cadeia de distribuição”. Os veterinários poderão sofrer pressão dos criadores para realizarem prescrições desnecessárias, “e precisarão dizer não”, diz Michael Apley, um professor de Medicina Veterinária da Universidade do Estado do Kansas que atua como consultor da Casa Branca sobre resistência a antibióticos. “Moralmente, você está em uma luta entre o valor adicionado à produção versus a necessidade de ser responsável frente a um objetivo de saúde pública”.
Em suma: Veterinários serão a linha de frente em um esforço para brecar o uso de antibióticos de uso veterinário que contribuem para o desenvolvimento de superbactérias.
Fonte: Bloomberg