Real desvalorizado começa a beneficiar indústrias
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Por: Raquel Landim
O real desvalorizado e a forte recessão começam a levar as indústrias a exportar mais e importar menos.
De 23 setores analisados, 21 aumentaram a participação das exportações na produção, enquanto a fatia dos importados no consumo caiu em 14 categorias no período entre dezembro de 2014 e novembro de 2015, mostram dados da LCA Consultores.
A tendência é mais visível nas exportações. Entre dezembro de 2014 e novembro de 2015 (último dado disponível), a participação das exportações na produção da indústria saltou de 12,2% para 14,8%. No mesmo período, a fatia das importações no consumo aparente (exclui o que foi exportado) da indústria caiu de 18,1% para 17,3%.
Os analistas alertam, no entanto, que o movimento ainda é tímido após vários anos de crescimento das importações e perda de relevância das exportações. "O processo é muito lento e a indústria leva um bom tempo para se adaptar", diz Rodrigo Nishida, economista da LCA e autor do levantamento.
Nas vendas para o exterior, a falta de competitividade brasileira dificulta a conquista do mercado externo. Segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, as companhias só vem conseguindo exportar mais por oferecer descontos de 5% a até 20% aos clientes, repassando o impacto da desvalorização do real.
A evolução do número de empresas exportadoras e importadoras também é outro indicativo da mudança no comércio exterior: 1.088 empresas começaram ou voltaram a exportar em 2015, em um total de 20,3 mil.
Por outro lado, as empresas importadoras caíram de 44,4 mil para 42,4 mil. O recuo é considerado pequenos pelos especialistas, já que as as importações desabaram 24,3% em 2015.
Destaques
A conquista de clientes no exterior e a troca de insumos e produtos importados por nacionais têm sido generalizada, mas alguns setores se destacam. A fatia da exportação na produção do veículos, por exemplo, subiu de 8,5% em dezembro de 2014 para 15,3% em novembro de 2015.
Segundo a Anfavea, que reúne os fabricantes de veículos, as vendas externas crescem como alternativa à crise no mercado interno, estimuladas pela desvalorização do real e pelos acordos comerciais selados ou renovados em 2015: Argentina, Colômbia, México e Uruguai.
Outros setores que estão aproveitando a queda do real para exportar mais são a metalurgia básica (siderurgia, produção de ferro, fundição) e celulose e papel.
Já no processo de substituição de importações, o setor têxtil é um dos destaques.
A participação dos tecidos importados no consumo do país saiu de 18% de dezembro de 2014 para 14,1% em novembro de 2015. Um executivo do setor, que preferiu não se identificar, disse que o câmbio tornou a produção interna mais competitiva. A Abit, que a indústria do setor, não deu entrevista.
"Isso não quer dizer que esses setores têm bom desempenho. A recessão no Brasil é muito forte. Essas empresas podem apenas ter perdido menos mercado que os importados", diz Nishida, da LCA.
Fonte: Folha de São Paulo