PIB cai 3,8% em 2015, pior retração desde 1990
03 de Março de 2016
Por: Camilla Veras Mota, Ana Conceição, Arícia Martins e Estevão Taiar
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve retração de 3,8% em 2015, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do pior resultado para a economia nacional desde o recuo de 4,3% registrada em 1990.
O resultado veio ligeiramente melhor que a média de projeções apurada pelo Valor Data junto a 23 consultorias e instituições financeiras, que apontava queda de 3,9% no período. As projeções variaram de recuo de 3,7% a contração de 4%.
No quarto trimestre do ano passado, o PIB recuou 1,4% ante o terceiro, feito o ajuste sazonal. A expectativa era de um recuo de 1,6%. Na comparação com o quarto trimestre de 2014, a atividade econômica do país teve retração de 5,9%, em linha com a queda projetada.
Indústria
O PIB da indústria caiu 1,4% no quarto trimestre de 2015, ante o terceiro trimestre, com ajuste sazonal. A média das estimativas apuradas pelo Valor Data para o setor apontava queda de 3,1% no período. A queda foi menor do que a registrada no terceiro trimestre, de 1,9%. Na comparação com o mesmo período em 2014, houve retração de 8%.
No ano, a indústria registrou recuo de 6,2%, ante uma estimativa de 6,8%. Mesmo com uma retração menos intensa que as expectativas, esse foi o pior resultado anual setor de toda a série histórica mais recente das Contas Nacionais, iniciada em 1996.
No PIB, a indústria engloba, além do setor manufatureiro e extrativo, a construção civil e a produção e distribuição de energia e gás.
Economistas já previam que o setor continuaria a registrar resultados muito ruins, e que nem mesmo a desvalorização da taxa de câmbio daria algum alento ao setor e à economia, apesar da melhora esperada para o setor externo.
Serviços
Entre o terceiro e o quarto trimestre, o setor de serviços, que engloba comércio, intermediação financeira e serviços públicos, entre outros, teve retração de 1,4%, feito o ajuste sazonal. A média das estimativas apurada pelo Valor Data era de queda de 1,1% para esse ramo de atividade. Na comparação com o mesmo período em 2014, o PIB do setor de serviços caiu 4,4%.
No ano, o setor teve retração de 2,7%, praticamente em linha com a estimativa de queda de 2,6%. Este também foi o pior resultado anual para o PIB de serviços da série atual do IBGE.
Agropecuária
O setor agropecuário, por sua vez, cresceu 2,9% no quarto trimestre de 2015, sobre o terceiro. A alta veio em acima da média esperada pelos analistas, que era de crescimento de 2,5% no período.
Ante o mesmo período em 2014, o PIB agro cresceu 0,6%. No ano, houve expansão de 1,8%, em linha com a previsão dos analistas ouvidos pelo Valor Data.
Consumo das famílias
O consumo das famílias diminuiu 1,3% entre outubro e dezembro, em relação ao trimestre imediatamente anterior, feitos os ajustes sazonais.
O resultado foi pior que as previsões de analistas coletadas pelo Valor Data, que na média esperavam queda de 1% para esse componente do PIB. Em relação ao quarto trimestre de 2014, o consumo das famílias caiu 6,8%. Esta foi a quarta retração consecutiva no componente. No ano, o consumo cedeu 4%, ante uma expectativa de queda de 3,9%. O resultado é o mais negativo desde o início da série histórica disponibilizada pelo IBGE, em 1996. O consumo das famílias só registrou outros recuos no dado fechado do ano em 1998 (0,7%) e em 2003 (0,5%).
Economistas entrevistados pelo Valor já previam que o baque sentido pelo mercado de trabalho no número de empregos e na renda por causa da recessão levaria as famílias a reduzir o consumo.
O consumo do governo, por sua vez, recuou 2,9% no período, em relação aos três meses imediatamente anteriores, feitos os ajustes sazonais, desempenho também pior que o previsto na média das projeções do Valor Data, que indicava queda de 0,3% para a demanda do setor público na mesma comparação.
Em relação a igual período de 2014, houve queda dos gastos da administração pública em 2,9%. No ano, o consumo do governo diminuiu 1%. Esperava-se recuo de 0,5%.
Investimentos produtivos
O investimento voltou a cair, e de forma mais contundente, no quarto trimestre do ano passado, marcando o 10º trimestre consecutivo de recuo nesse componente do PIB.
De acordo com o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas, equipamentos, na construção civil e em pesquisa) diminuiu 4,9%, na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, feitos os ajustes sazonais. Ainda assim, o resultado veio melhor que a média das projeções, de diminuição de 6,9% no período.
Em relação ao mesmo trimestre de 2014, a Formação Bruta de Capital Fixo recuou 18,5%. No ano, os investimentos tiveram queda de 14,1%, ante uma expectativa de recuo de 14,6%.
A taxa de investimento em relação ao PIB fechou 2015 em 18,2%.
Setor externo
As exportações registraram desempenho negativo no quarto trimestre de 2015, com queda de 0,4% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, na série com ajuste sazonal. O resultado veio melhor que as projeções coletadas pelo Valor Data, que apontavam queda de 1%. Em relação ao quarto trimestre de 2014, houve avanço de 12,6% das exportações.
Já as importações diminuíram 5,9% ante o terceiro trimestre. O resultado veio abaixo das projeções coletadas pelo Valor Data, que apontava queda de 5,7%. Em relação ao quarto trimestre de 2014, houve queda de 20,1%.
No ano, as exportações aumentaram 6,1% e as importações recuaram 14,3%. A expectativa era de alta de 4,5% e de queda de 13,9%, respectivamente.
Fonte: Valor Econômico.