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ALANAC - Notícias do Setor

Cerca de 15 empresas buscam vacina contra o zika

08 de Março de 2016

Por: Peter Loftus (The Wall Street Journal)

Depois da crise do ebola na África Ocidental, autoridades internacionais da área de saúde prometeram se preparar melhor contra a próxima epidemia com vacinas, remédios e testes de diagnóstico. A próxima epidemia já chegou – o vírus zika – e, assim como no caso do ebola, os pesquisadores estão correndo para desenvolver ferramentas médicas para combater o vírus.

Cerca de 15 empresas estão trabalhando no desenvolvimento de vacinas contra o Zika, a maioria em estágio iniciais, segundo a Organização Mundial da Saúde. Entre as mais avançadas estão algumas drogas do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, na sigla em inglês) e da Bharat Biotech International Pvt. Ltd., na Índia, diz Marie-Paule Kieny, diretora-geral assistente para sistemas de saúde e inovação da OMS. Ela prevê que pode levar pelo menos 18 meses para que testes em larga escala sejam realizados.

As farmacêuticas Sanofi AS, Inovio Pharmaceuticals Inc. e a NewLink Genetics Corp. informaram que estão desenvolvendo vacinas contra o zika. O NIAID e o Instituto de Pesquisas Scripps estão em busca de medicamentos, enquanto empresas como a Chembio Diagnostics Inc. estão trabalhando em novos testes de diagnóstico.

De certa forma, os esforços estão ainda mais atrasados do que na crise do ebola – para o qual ainda não há uma droga ou vacina licenciada. Pelo menos mais de uma dezena de possíveis vacinas e remédios contra o ebola já estavam sendo desenvolvidos quando o vírus se espalho na África Ocidental, em 2014. Não havia nenhum produto em desenvolvimento avançado para combater o zika, que vinha sendo considerado uma ameaça pequena antes das complicações que emergiram no Brasil no segundo semestre de 2015. No melhor cenário, vai demorar até perto de 2017 para que sejam coletados dados de testes suficientes para os reguladores tomarem uma decisão sobre as duas candidatas a vacinas contra o zika que o NIAID está desenvolvendo, disse Anthony Fauci, diretor do instituto, em entrevista ao The Wall Street Journal.

Ainda assim, cientistas estão confiantes, apesar do início tardio, que podem reduzir o período normal de desenvolvimento, às vezes mais de dez anos, aproveitando pesquisas anteriores de vírus similares, como o da dengue. Algumas empresas e o NIAID estão tentando ajustar modelos já desenvolvidos para vacinas contra vírus semelhantes. “Acredito que vamos ver uma gama muito robusta de vacinas surgindo”, disse Fauci.

A dificuldade em reduzir a propagação do zika aponta para um problema maior: epidemias se movem mais rápido do que as instituições globais. Não há vacinas para muitas das maiores ameaças globais à saúde, em parte, porque não é um negócio muito lucrativo. Epidemias são imprevisíveis, o que cria um fluxo incerto de receita, e frequentemente surgem nas regiões pobres do mundo. Autoridades de saúde estão cientes que os processos de pesquisa e desenvolvimento atuais são mal adaptados para doenças epidêmicas e começaram a trabalhar em mudanças após a crise do ebola.

Testes de eficácia de produtos médicos contra o ebola não foram iniciados até que a epidemia começou a perder força. Uma vacina, desenvolvida pela Merck Sharp & Dohme e NewLink, mostrou-se eficaz em um teste clínico. O NIAID suspendeu os testes de um remédio chamada ZMapp porque não havia um número suficiente de pacientes com ebola para determinar de forma conclusiva a eficácia da droga.

Outros desafios no caso do zika incluem a escassez de pesquisas anteriores sobre o vírus; a dificuldade em desenvolver drogas para reduzir uma infecção com sintomas de curta duração; e possíveis reações cruzadas com vírus relacionados, como o da dengue.

A Sanofi informou em fevereiro que começou a trabalhar em uma vacina contra o zika, usando 20 anos de experiência adquirida no desenvolvimento de uma vacina contra a dengue. “Pretendemos cortar anos do cronograma normal”, disse uma porta-voz da Sanofi.

O NIAID também está se beneficiando de pesquisas anteriores, modificando produtos que já estavam em desenvolvimento, disse Fauci. O instituto está inserindo um gene do vírus zika em uma vacina originalmente desenvolvida para o vírus do Nilo Ocidental, para a qual o instituto não encontrou um parceiro comercial. Em setembro, o NIAID espera começar, nos EUA, a fazer testes clínicos da vacina contra o zika em humanos.

A Inovio não havia pesquisado o zika antes do ano passado. Mas, depois de ler sobre a propagação do vírus na América do Sul, o diretor-presidente, Joseph Kim, decidiu tentar produzir uma vacina contra o zika com a mesma tecnologia que a companhia está usando para desenvolver vacinas contra outras doenças, com base em sequências de DNA descobertas nos vírus analisados.

Esses esforços iniciais em pequena escala ganharam nova urgência no fim do ano passado, depois que Kim começou a ver fotos de bebês nascidos com microcefalia – crânios e cérebros menores que o normal – que pesquisadores vincularam a mães infectadas com o vírus zika.

A empresa planeja testar suas vacinas em macacos infectados com zika e, se tiver sucesso, migrar para testes em humanos, possivelmente no início do próximo ano, disse ele ao WSJ.

O desenvolvimento de drogas tem atraído menos interesse. O zika provoca, na maioria dos casos, sintomas leves e de curta duração e 80% das pessoas infectadas nunca desenvolvem nenhum sintoma. O Instituto de Pesquisas Scripps é um dos poucos que está buscando potenciais tratamentos. Os pesquisadores injetam uma substância brilhante chamada luciferase – também encontrada em vaga-lumes – em células modificadas do zika para ajudar a mostrar se o remédio sendo testado está impedindo a reprodução do vírus. Deve levar pelo menos dois anos para surgir um tratamento, prevê Michael Farzan, professor de imunologia e ciência microbial do Scripps.

A Chembio Diagnostics Systems Inc. está trabalhando num teste portátil e de resultado rápido para identificar o zika. A meta é identificar a contaminação por meio de uma gota de sangue, diz o diretor-presidente John Sperzel. Ele crê que um protótipo pode ser desenvolvido até o meio do ano, e depois, ter sua eficácia avaliada em testes de campo. “Precisamos desenvolver rapidamente testes [...] que sejam simples, de custo efetivo e portáteis.”

 

Fonte: Valor Econômico


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