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ALANAC - Notícias do Setor

Vacina da dengue obtém 60,8% de eficácia em teste na América Latina

04 de Novembro de 2014

MARIANA VERSOLATO 
 
O maior estudo de uma vacina contra a dengue, conduzido no Brasil e em outros quatro países da América Latina, apontou que a imunização, em fase final de testes, tem 60,8% de eficácia contra a doença.
 
O resultado foi publicado nesta segunda-feira (3) no periódico "New England Journal of Medicine" e apresentado no encontro anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, que ocorre em Nova Orleans. A Sanofi Pasteur, laboratório que desenvolveu a vacina, pretende comerciá-la já em 2015.
 
Este é o melhor resultado de uma imunização contra a dengue já obtido. Outros estudos com essa mesma vacina, desenvolvidos anteriormente na Ásia, haviam apontado eficácia entre 30% e 56,6%.
 
A taxa de sucesso, porém, ainda desperta dúvidas quando comparam-se outras vacinas, como a da febre amarela, cuja eficácia é de mais de 90%.
 
O estudo de fase 3 (última etapa antes da aprovação por uma agência reguladora) da vacina envolveu mais de 20 mil crianças e adolescentes de 9 a 16 anos em cinco países da América Latina: Brasil, Colômbia, México, Honduras e Porto Rico.
 
O número de participantes é o dobro do de outro estudo de fase 3 dessa vacina conduzido na Ásia.
 
A vacina foi oferecida em três doses, com intervalo de seis meses. Os participantes foram então acompanhados por dois anos.
 
PROTEÇÃO PARCIAL
 
A eficácia geral da vacina foi de 60,8%, mas variou bastante conforme o sorotipo e o país. A proteção foi maior para os sorotipos 3 (74%) e 4 (77,7%) e menor para os sorotipos 1 (50,3%) e 2 (42,3%).
 
Para Esper Kallás, infectologista da USP que participa dos ensaios clínicos de uma vacina nacional contra a dengue, produzida no Instituto Butantan, a vacina da Sanofi Pasteur tem eficácia de baixa a moderada.
 
"É um resultado importante que nos ajuda a entender o desenvolvimento de uma vacina contra a dengue, mas acho que ainda não está no ponto ideal", diz.
 
Ele lembra ainda que a proteção foi maior –83,7%–entre os que eram soropositivos, ou seja, já eram imunes a um ou mais sorotipos, contra 43,2% de proteção entre os soronegativos.
 
"É um dado preocupante para a população que nunca teve dengue. Você pode acabar criando um grupo mais suscetível a dengues secundárias mais graves."
Isso porque a vacina não protegeria totalmente e ainda poderia fazer o organismo entender que já contraiu a doença.
 
Sheila Homsani, gerente do departamento médico da Sanofi Pasteur, afirma que esse é um risco teórico que não foi comprovado no estudo, já que houve apenas um caso de dengue severa no grupo que tomou a vacina, contra 11 casos no grupo placebo.
 
No Brasil, a proteção foi de 77,5% entre os participantes que tomaram pelo menos uma injeção. A fabricante não informou qual foi a taxa entre os que tomaram as três doses nem qual foi a proteção por sorotipo no país.
 
Durante o período do estudo, porém, o sorotipo que mais circulou foi o 4, para o qual a eficácia da vacina é maior. No México, onde circularam os sorotipos 1 e 2, a eficácia foi de 31,3%.
 
Para Nicholas Jackson, diretor do departamento de pesquisa em vacina contra a dengue da Sanofi Pasteur, o desafio da vacina contra a dengue é maior, porque trata-se de quatro imunizações em uma.
 
"Não há tratamento específico contra a dengue hoje, não temos outras opções. Por isso, a vacina é um grande marco para a saúde pública", disse.
 
 
Fonte: Folha de São Paulo


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