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Mercado de boi gordo segue em alta

29 de Fevereiro de 2016

A indústria de carne bovina e o consumidor brasileiro estão sentindo hoje o reflexo de dois anos consecutivos de descarte de fêmeas. Em 2013, a participação de matrizes no abate foi de 43,8%. Em 2014, o índice reduziu ligeiramente para 43,3% e, no ano passado, caiu para 40,8%. “Se essas fêmeas não tivessem sido abatidas em 2014, elas deveriam colocar bezerro no mercado este ano. Além disso, em 2015 houve seca, que comprometeu as pastagens e colaborou para a redução da oferta de animais hoje”, diz a zootecnista Isabella Camargo, consultora de mercado da Scot Consultoria.

O grande problema da estiagem é que ela prejudica o pasto, consequentemente o ganho de peso do animal. “Sem uma boa pastagem, a fêmea não consegue ter a gordura necessária e, na estação de monta, não se reproduz”, explica Isabella. Mas para entender a atual falta de animais de reposição – bezerro (8 a 12 meses), garrote (18 meses) e boi magro (dois anos) – é preciso voltar para 2013, ano do maior abate do atual ciclo pecuário. O abate de fêmeas acompanha o ritmo do mercado: quando o preço da arroba está mais baixo, os pecuaristas começam a abater mais matrizes para pagar o custo e aumentar a renda. Naquele ano, o preço da arroba do boi gordo oscilou entre R$ 96 e R$ 114, segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) – Esalq/USP.

Mas o abate de fêmeas diminui a oferta de bezerros nos anos vindouros. A conta funciona assim: uma matriz que tenha ficado prenhe em fevereiro de 2013, contando uma gestação de 290 dias, ela teria tido bezerro no final de novembro, começo de dezembro daquele ano. Este animal só estaria pronto para ser vendido para engorda no final de 2014, início de 2015. Isso explica os atuais preços da arroba do boi gordo na casa de R$ 154 e do bezerro de 7,5 arrobas, que em São Paulo está sendo vendido a R$ 1.500 um animal, segundo a Scot Consultoria.

Com a falta de animais de reposição, a tendência é o preço do boi gordo se manter estável em 2016. “Acredito que a arroba vai ficar nestes patamares e que não há força para subir muito mais. O ciclo deve começar a virar só no final de 2016 e a oferta deve melhorar em 2017, ano que vai refletir o menor abate de fêmeas em 2015”, diz Isabella. Mas a consultora ressalta que traçar um cenário de longo prazo num cenário de instabilidade econômica é difícil. “Para falar de preço de boi gordo, precisamos falar de consumo de carne bovina, mas o consumidor está comprando menos e nem sempre a indústria consegue repassar o preço da arroba para a carne”, explica.

Segundo o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-10/FGV), o boi vivo no pasto subiu 2,28% neste mês. Nos últimos 12 meses, o incremento foi de 3,72%. “Já os preços da carne bovina no IPA-10/FGV caíram 1,54% em fevereiro, mas em 12 meses apresentaram uma alta de 14,29%”, diz André Braz, economista do Ibre/FGV.

O aumento registrado pelo gado deve ser repassado para a carne do animal abatido. No Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10/FGV), os preços subiram em média 1,11% em fevereiro. Nos últimos 12 meses, o consumidor paga uma carne bovina 16% mais cara e este aumento tem levado muitos a optar por outras fontes de proteína mais barates.

Como o Brasil é exportador, uma alternativa é vender esta carne para fora, aproveitando a desvalorização do real, a abertura de novos mercados compradores – EUA, China, Irã e Arábia Saudita – e o momento atual, em que Austrália e EUA estão com dificuldade de suprir a demanda internacional do produto. As vendas para o exterior podem ajudar a equilibrar a balança, mas não para todos. “Apenas 15% da nossa produção é exportada. Não são todos os frigoríficos habilitados a exportar, então o consumo interno é muito importante”, diz a consultora.

Semáforo amarelo

O momento é de cautela para os criadores que trabalham na terminação do boi. “A gente diz a eles para fazer as contas, ter tudo em planilha. Ele pode comprar um bezerro caro hoje e não ter um retorno lá na frente. Ele precisa ter o controle do custo, para saber se deve ou não comprar, finaliza a zootecnista.

 

Fonte: O Estado de São Paulo


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